segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Mais um dia na Penitenciária...

...mas dessa vez foi diferente. Eu e a Adriane chegamos lá, e mais uma vez os PM´s não nos deixaram entrar com o carro para deixar as cadeiras lá dentro. Desde que mais de 20 presos fugiram de lá, as coisas apertaram para nós, para deixarem entrar qualquer tipo de material, agora eles revistam tudo mesmo.

Nesse final de semana, queriam até nos revistar. Quando chegamos na carceragem, cansadas por termos carregado tantas cadeiras e tanta tralha, fomos abordadas pelo chefe de plantão, que disse que só entraríamos se passássemos pela revista. "Mas nós nunca fomos revistadas", a Adriane disse. Mas não tinha "mas". Na semana passada uma força tarefa começou na Penitenciária, com mais força (desculpa o trocadilho), e todos do Serviço Religioso tiveram que passar pela revista. Em tempo: nós, que temos carteira cedida pelo Sistema Prisional para o Serviço Religioso, não podemos passar pela revista íntima. É mais do que normal, já que você está fazendo um trabalho voluntário, investindo seu tempo e recurso ali, e, já que não tem interesse de fazer nada de errado (pelo contrário, de ensinar o certo), não pode se submeter a esse tipo de coisa, que é humilhante para todos, até para quem vai visitar um parente, o filho, o marido, o pai (as crianças também passam por isso!!!).

Resumindo, eu não quis passar pela revista. Nunca tinha passado, nunca passei, e não pretendo passar. Fui pega de surpresa, não sabia das mudanças, e não quis encarar. A Adriane eu acho que até encararia, mas viu que eu não me senti à vontade e foi solidária comigo. Amiga, mesmo (risos).

Voltamos para o carro (aaaahhh, andamos tudo de novo com aquelas cadeiras + isopor com refrigerantes + vasilha de bolo + visual da lição bíblica e corinhos), eu chorei, a Adriane lagrimou (isso é que é solidariedade!!!) e orou. Me senti péssima por não ter encarado a revista. A Adriane achou que ficou parecendo que nós tínhamos algo de errado, mas eles sabem que não. Nós sabemos que não. E, principalmente, Deus sabe que não.

Fiquei me comparando com os personagens bíblicos que passaram por poucas e boas para divulgar o Evangelho para o mundo, e eu, egoistamente, não quis passar por uma revista. Paulo, que passou por naufrágios, surras, prisões, terremotos, e, até onde eu sei, ele sequer chorou. Josué, que enfrentou o povo dizendo que ele serviria a Deus mesmo que o povo se recusasse (ele podia ter morrido, sabia?). E tantos outros, que fizeram muito mais, e eu me recusando a uma revista. Mas eu não consegui, desculpa, não consegui. Já pedi perdão a Deus, já chorei, já pedi perdão da Adriane também, e vou pedir das crianças. Mas não consegui...

Liguei para a dona Ruth, que foi quem conseguiu as carteiras do Serviço Religioso para a gente, e ela disse que é possível mudar isso, afinal, nós não podemos ser revistadas. Depois de chorar, orei, e me senti menos ruim ("ora que melhora", você já leu essa frase?). Mas o que mais doeu foi ver, no final do dia, o bolo, os chocolates e o refrigerante que eu daria para as crianças dentro da geladeira da minha casa...

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